quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Emprego é fonte de renda,
trabalho é o que dá sentido à vida

Em Vida e carreira: Um equilíbrio possível?, Mario Sergio Cortella e Pedro Mandelli mostram o erro que é tentar separar o lado pessoal do profissional e garantem que é possível ser feliz
  

Seu Antônio começou a vida profissional aos 17 anos, como contínuo (uma espécie de office-boy) em um banco. Trabalhou na instituição e lá se aposentou, tendo uma vida plena e feliz. Seu neto, aos 30 anos, já passou por 10 empresas e demorou a concluir o ensino superior porque trocava de curso constantemente. Qual dos dois teve uma carreira mais feliz? O que mudou entre uma geração e outra?  Vida e carreira: Um equilíbrio possível? (Papirus 7 Mares, 112 pp., R$ 39,90) responde a essas e outras questões.

O assunto é debatido por dois grandes consultores: Mario Sergio Cortella, filósofo, educador e palestrante. E Pedro Mandelli, especialista em gestão de pessoas e ex-colunista da revista Você S/A. Logo no início, Cortella dispara: não existe diferença entre vida profissional e vida pessoal. “As pessoas erroneamente pensam que vida pessoal e vida profissional caminham separadas. Na realidade a profissional está contida dentro da pessoal, isto é, a profissional é apenas uma dimensão da vida pessoal. O que temos que compreender é que, em determinados momentos, viveremos mais intensamente a vida profissional e, em outros, viveremos mais intensamente a vida pessoal”, explica.

Na obra, os autores falam de suas trajetórias profissionais, da construção da carreira, das conexões entre estabilidade e segurança, de como diferentes gerações se relacionam com o mercado de trabalho e a carreira, das contribuições da tecnologia, de planos e projetos para o futuro, além de abordarem a questão da felicidade na carreira.

O último tópico citado, aliás, permeia boa parte do livro. “Esse é um viés meu e do Mario. Nós dois somos pessoas felizes. A gente defende a tese de que o trabalho é parte da sua vida. E na sua vida você precisa fazer um conjunto de escolhas pra que não viva uma vida ‘pesada’, mas consiga se sentir feliz”, conta Mandelli.

Cortella completa: “O livro vem trazer luz a essa questão que atualmente é crucial na vida das pessoas. Muitas vezes ouvimos as pessoas dizerem que estão infelizes por causa do emprego e que no dia em que forem fazer o que realmente querem ou estiverem onde querem estar, aí sim serão felizes. Felicidade não é uma constante, são episódios. Nós só gostamos da felicidade por causa de sua ausência. Se eu fosse feliz o tempo todo, não seria feliz”.

Para aproveitar bem a leitura da obra, Cortella ressalta que é preciso ter em mente que o livro não é um manual, principalmente para quem ainda tem dúvidas em relação à carreira (ou às mudanças nos rumos dela). “No livro se encontram informações que podem te levar a uma resposta sobre quando é o momento de trocar de emprego, por exemplo, mas é você quem deve decidir esse passo”, analisa o autor.

Outro ponto que, segundo Cortella, deve ficar bem claro é com relação à diferença entre trabalho e emprego e entre cansaço e stress. São fatores que, muitas vezes, podem levar a pessoa a pedir demissão ou se sentir infeliz com o que faz. “Emprego é fonte de renda. Trabalho é onde você encontra sentido naquilo que você está fazendo. Muitas vezes o trabalho e o emprego andam juntos, mas muitas vezes não. Por sua vez, o cansaço é consequência de uma atividade muito intensa e o stress é consequência de quando fazemos algo em que não vemos mais sentido. Realizar algo que não se compreende o porquê de estar realizando estressa”, explicita.

De acordo com Pedro Mandelli, a área de gestão de pessoas – e consequentemente todo o trabalho de recursos humanos – mudou muito nos últimos anos como resultado das alterações de pensamento com relação à carreira e das próprias corporações. “Só para se ter uma ideia, há 20 anos a empresa dava ‘sobrenome’ às pessoas que nela atuavam. Hoje ela é uma parte transitória na vida das pessoas. Por outro lado, mudou o valor que cada um tem dentro do próprio local onde trabalha, mudou a expectativa em relação ao trabalho, mudou o papel do chefe, a forma de remuneração. Enfim, mudou tudo!”, conta.

Para os dois autores, o livro deve ser lido por todas as pessoas, pois toca em um assunto de extremo interesse a todos. “As pessoas olhariam as empresas de um jeito diferente. As pessoas veem [a empresa] como depositório das suas esperanças, e na verdade a esperança tem que estar dentro da própria pessoa, ela tem que assumir os seus rumos e seus caminhos, e as empresas fazem parte desse jogo. Daí o título do livro”, finaliza Mandelli.

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