sexta-feira, 4 de outubro de 2019


QUEM TEM MEDO DO LOBO MAU?
Ilan Brenman e Luiz Felipe Pondé debatem o impacto do politicamente correto na formação das crianças

Quem nunca usou expressões do tipo “matar dois coelhos com uma cajadada só” ou “chutar cachorro morto”? Quem brinca de polícia e ladrão pode virar bandido? Games violentos criam assassinos? O filósofo Luiz Felipe Pondé e o escritor Ilan Brenman discutem questões como essas no novo livro da Papirus 7 Mares, Quem tem medo do lobo mau? O impacto do politicamente correto na formação das crianças (112 pp., R$ 34,90).

Hoje, a questão do que se pode falar ou de como se deve falar está bastante em evidência, e o politicamente correto vem sendo fonte de inúmeras polêmicas. Os autores explicam que esse tipo de pensamento esvazia a linguagem e produz um enfraquecimento do mundo simbólico, o que interfere negativamente na formação e no desenvolvimento de crianças e jovens. 
Para ilustrar isso, Ilan conta no livro a história de uma mãe que, por medo de que o filho crescesse violento, sempre que ele ganhava um boneco que tivesse uma arma na mão, arrancava o braço do boneco. Mas o autor explica: “Ao negarmos às crianças brincadeiras por considerá-las estereotipadas, estimuladoras de violência, que reforçam papéis na sociedade etc., estamos rachando a infância, adoecendo essas crianças”. E completa: “Crianças precisam de espaços onde o seu mundo simbólico possa se projetar. Se retirarmos isso delas, sobram inquietude, revolta, indisciplina, angústia”.

Crianças são observadoras por natureza. Elas aprendem tolerância, respeito e igualdade observando os adultos que as rodeiam. Na opinião dos autores, não é proibindo histórias, brincadeiras e jogos que teremos adultos pacíficos. “A minha impressão é que as pessoas que se reuniram um dia e decidiram fazer um mundo melhor estão acabando com o mundo, na verdade, porque os jovens estão muito piores do que eram há 15 anos: inseguros, frouxos, medrosos”, dispara Pondé. Para ele, essa verdadeira patrulha do pensamento surge como uma tentativa de resolver um certo esgarçamento de formação e de percepção, mas isso acaba engessando as reações, produzindo pessoas incapazes de lidar com as próprias emoções.

A leitura dessa obra nos faz refletir que talvez o lobo mau não viva apenas nos contos de fadas, mas esteja a nos espreitar na escola, na família, na política, na sociedade, enfim. Para enfrentá-lo, precisamos ser livres para pensar e nos expressar, e até reorganizar certos comportamentos e linguagens nossos.

--------------------------------------------------------------------



Sobre os autores:

Ilan Brenman nasceu em Israel em 1973, mas veio para o Brasil ainda criança, em 1979. É psicólogo formado pela PUC-SP, mestre e doutor em Educação pela USP, onde pesquisou a influência do politicamente correto na literatura infantojuvenil e na formação das crianças. Considerado um dos mais importantes autores de livros infantis no Brasil, tem quase uma centena de títulos publicados, muitos deles premiados e também traduzidos em diversos países, como Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, Suécia, Coreia e China. Seu best-seller é Até as princesas soltam pum, que já vendeu centenas de milhares de exemplares. Ilan ministra palestras por todo o Brasil e tem uma coluna semanal na rádio CBN, chamada Conversa de pai.


Luiz Felipe Pondé é doutor em Filosofia pela USP e pela Universidade Paris VIII, com pós-doutorado pelas universidades de Tel Aviv (Israel) e Giessen (Alemanha). É coordenador e vice-diretor do curso de Comunicação e Marketing da Faap e professor da pós-graduação em Ciências da Religião da PUC-SP. Foi professor convidado da Universidade de Marburg (Alemanha), da Universidade de Sevilha (Espanha), da Escola Paulista de Medicina da Unifesp e membro da Société Internationale pour l’Étude de la Philosophie Médiévale (Bélgica). Tem vários livros publicados e escreve para o jornal Folha de S.Paulo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário