terça-feira, 6 de março de 2018

QUANDO EU ERA MENINO...



As 22 crônicas que compõem Quando eu era menino foram publicadas inicialmente no Correio Popular, jornal de Campinas do qual Rubem Alves é colunista. Em preto e branco, as ilustrações feitas especialmente para o livro têm a assinatura do artista plástico Paulo Branco. Os textos traduzem, com a fluência que é peculiar à crônica de Rubem Alves, as vivências deste que foi um dos maiores pensadores brasileiros da atualidade.

Nas crônicas, o escritor foi inspirado pela simplicidade da roça, pelas mudanças sociais e históricas "que andavam de carro de boi", por uma infância movida à criatividade que – ele faz ver – sempre supera misérias, rancores e tristezas. "Para além do caráter autobiográfico", indica o texto da contracapa do livro, "o autor nos leva a percorrer nossas próprias lembranças, reavivando a criança dentro de nós".

Grande parte das crônicas de Quando eu era menino tem destinatários declarados: as netas do autor. A Mariana, Camila, Ana Carolina, Rafaela e Bruna, Rubem Alves junta leitores de todas as idades ao decidir reunir seus textos em livro. Sim, porque Quando eu era menino convida à leitura pais e filhos, tios, avós, professores e alunos, gente que aprendeu a ler agora e também quem passou a vida em companhia dos livros.

Ao final de cada crônica, Rubem Alves deixa para o leitor um "Para pensar". Além de reflexões, o autor sugere brincadeiras e atividades que podem ser realizadas tanto em casa, com filhos e amigos, quanto em sala de aula. Na página 108 de Quando eu era menino, o "Para pensar" se transforma em "Para pensar e fazer" e sugere a confecção de brinquedos.

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Trechos do livro
"Que coisa poderosa é o Tempo! Andando para trás, o mundo em que vivemos vai desaparecendo. É preciso que as coisas que existem agora desapareçam para que as coisas que existiam naquele tempo apareçam. A imaginação nos faz ver que outras formas de vida são possíveis. Nosso mundo não é único." (Da crônica A máquina do tempo)

"As palavras têm estranhos poderes. Um deles é tornar possível brincar com coisas que não existem." (Da crônica A terra)

"Quando as mudanças acontecem muito devagar, o tempo anda muito devagar. Ao contrário, quando as mudanças acontecem depressa, o tempo anda depressa. E foi isto que aconteceu: desde que nasci, as mudanças começaram a acontecer de maneira cada vez mais rápida. E a razão por que as mudanças passaram a acontecer de forma cada vez mais rápida se deve a isto: antes as descobertas aconteciam por acidente. Mas, de repente, os homens aprenderam a fazer a mudanças de propósito." (Da crônica A mina d’água)

"Na roça se sofria muito, sem esperança. Na roça a dor mandava. É por isso que se dizia, quando uma pessoa morria: ‘Descansou...’" (Da crônica As dores)

"Não quero presentes comprados. Não preciso de nada. Um presente que vocês, minhas netas, e os meus filhos poderiam me dar é simples: ler as coisas que eu escrevo. Cada coisa que eu escrevo – quero que cada uma delas seja gostosa como um morango vermelho... Escrevo para dar felicidade." (Da crônica Só quero um presente)

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