As 22 crônicas que compõem Quando eu era menino foram publicadas inicialmente no Correio Popular, jornal de Campinas do qual Rubem Alves é colunista. Em preto e branco, as ilustrações feitas especialmente para o livro têm a assinatura do artista plástico Paulo Branco. Os textos traduzem, com a fluência que é peculiar à crônica de Rubem Alves, as vivências deste que foi um dos maiores pensadores brasileiros da atualidade.
Nas crônicas, o
escritor foi inspirado pela simplicidade da roça, pelas mudanças sociais e
históricas "que andavam de carro de boi", por uma infância movida à
criatividade que – ele faz ver – sempre supera misérias, rancores e tristezas.
"Para além do caráter autobiográfico", indica o texto da contracapa
do livro, "o autor nos leva a percorrer nossas próprias lembranças,
reavivando a criança dentro de nós".
Grande parte
das crônicas de Quando eu era menino
tem destinatários declarados: as netas do autor. A Mariana, Camila, Ana
Carolina, Rafaela e Bruna, Rubem Alves junta leitores de todas as idades ao
decidir reunir seus textos em livro. Sim, porque Quando eu era menino convida à leitura pais e filhos, tios, avós,
professores e alunos, gente que aprendeu a ler agora e também quem passou a
vida em companhia dos livros.
Ao final de
cada crônica, Rubem Alves deixa para o leitor um "Para pensar". Além
de reflexões, o autor sugere brincadeiras e atividades que podem ser realizadas
tanto em casa, com filhos e amigos, quanto em sala de aula. Na página 108 de Quando eu era menino, o "Para
pensar" se transforma em "Para pensar e fazer" e sugere a
confecção de brinquedos.
Trechos do livro
"Que
coisa poderosa é o Tempo! Andando para trás, o mundo em que vivemos vai
desaparecendo. É preciso que as coisas que existem agora desapareçam para que
as coisas que existiam naquele tempo apareçam. A imaginação nos faz ver que
outras formas de vida são possíveis. Nosso mundo não é único." (Da crônica A máquina do tempo)
"As
palavras têm estranhos poderes. Um deles é tornar possível brincar com coisas
que não existem." (Da crônica A terra)
"Quando
as mudanças acontecem muito devagar, o tempo anda muito devagar. Ao contrário,
quando as mudanças acontecem depressa, o tempo anda depressa. E foi isto que
aconteceu: desde que nasci, as mudanças começaram a acontecer de maneira cada
vez mais rápida. E a razão por que as mudanças passaram a acontecer de forma
cada vez mais rápida se deve a isto: antes as descobertas aconteciam por
acidente. Mas, de repente, os homens aprenderam a fazer a mudanças de
propósito." (Da crônica A mina d’água)
"Na roça
se sofria muito, sem esperança. Na roça a dor mandava. É por isso que se dizia,
quando uma pessoa morria: ‘Descansou...’" (Da crônica As dores)
"Não
quero presentes comprados. Não preciso de nada. Um presente que vocês, minhas
netas, e os meus filhos poderiam me dar é simples: ler as coisas que eu
escrevo. Cada coisa que eu escrevo – quero que cada uma delas seja gostosa como
um morango vermelho... Escrevo para dar felicidade." (Da crônica Só quero um presente)
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