terça-feira, 25 de maio de 2010

Livro da Papirus faz justiça a Quentin Tarantino, diz o Correio Braziliense

Confira abaixo matéria publicada no jornal Correio Braziliense:

Estudo analisa a trajetória do diretor norte-americano Quentin Tarantino, autor de clássicos como Pulp fiction


Yale Gontijo

Publicação: 22/05/2010 03:02 - Correio Braziliense



Durante os anos 1950 e 60, o diretor britânico Alfred Hitchcock vivia uma situação bizarra dentro dos quadros de cineastas de Hollywood. Ele gozava de bom prestígio entre os dirigentes dos grandes estúdios e seus filmes dialogavam com grandes plateias. Hitchcock revolucionou a publicidade de lançamento, atuando como garoto propaganda de seus títulos. Por tudo isso, era considerado um cineasta menor pela crítica norte-americana. Foi preciso o batalhão de franceses da revista Cahiers du Cinema analisarem a obra do Mestre do Suspense e incluí-lo no hall de autores do cinema para que alguma justiça fosse feita à uma fina arte cinematográfica, pautada em visual e técnica arrojada.

Em certo grau, o mesmo tipo de justiça é feita com o lançamento do livro O cinema de Quentin Tarantino, escrito pelo uruguaio radicado no Brasil, Mauro Baptista Vedia, 46 anos. A tese de doutorado de Vedia é provavelmente um dos primeiros estudos em língua portuguesa devotados ao diretor de Cães de aluguel e Pulp fiction e analisa minuciosamente a obra de um dos diretores mais bem sucedidos de Hollywood na atualidade. “Ele não é o único cineasta autor dentro dos grandes estúdios atualmente. Clint Eastwood e Michael Mann são alguns nomes que acho interessantes. Quanto a David Lynch e Woody Allen tenho dúvidas do quanto estão inseridos no esquema hollywoodiano. Mas, a dramaturgia mais interessante feita nos Estados Unidos atualmente está nas séries de televisão”, observa Vedia.

A trajetória de Tarantino é dessas histórias que renderiam um bom filme. O ex-atendente de locadora de vídeo é um cinéfilo quase doentio, capaz de acumular um sem número de referências cinematográficas. Em seus filmes, o autor tanto pode passear pela nouvelle vague francesa quanto por elementos blackexploitation norte-americanos até cinema e cultura trash. “Tarantino parece que veio de outra época. É um talento raro. Precisa de tempo para o filme ser absorvido”, elogia o escritor.

Praticamente analisando quadro por quadro os primeiros filmes de Tarantino, Vedia, por vezes, parece superestimar o controle autoral do cineasta. “Tem sempre uma parte da obra que faz parte do inconsciente do autor. Não gosto de tratar com esse relativismo de que o filme fecha muito na cabeça do diretor, mas certamente existe uma reflexão e maturidade na forma e no conteúdo dos filmes dele”, analisa Vedia.

A trajetória cinematográfica do norte-americano é oscilante. Depois do sucesso estrondoso de Cães de alguel (1992) e Pulp fiction (1994), Tarantino experimentou uma criação mais intimista e madura em Jackie Brown (1997). Mas, foi mesmo com a saga da noiva vingativa de Kill Bill, volumes 1 e 2 que o garoto endiabrado se reencontrou com a plateia teen. “O Kill Bill 1, eu não gosto muito. Mas, o Kill Bill 2 é um filmaço”, elege o escritor. No entanto, a obra-prima do cineasta, segundo Vedia é Bastardos inglórios, seu filme mais recente e de roteiro mais delirante. “Bastardos inglórios o confirma como um dos poucos diretores contemporâneos que ‘obrigam’ as pessoas a assistir seus filmes nas salas de cinema”, escreveu Vedia. Tem muita gente que concorda.

O CINEMA DE QUENTIN TARANTINO de Mauro Baptista Vedia. Papirus Editora, Preço sugerido: R$ 38,50



TARANTINO QUADRO A QUADRO


Cães de aluguel

"Cães de aluguel possui tanto o jogo intertextual da paródia humorística quanto o jogo da paródia desprovida de humor. O filme afirma a vigência de questões tradicionais do filme de crime, como confiança, lealdade e tradição. Ao mesmo tempo, retira o tom grave e sério do gênero, ao somar humor negro e personagens conscientes de sua imagem e de si mesmos, com senso de humor de comediantes. O espectador ri principalmente com os personagens, suas piadas e da sua alegria; e, em menor medida, ri da crueldade mórbida das situações."



Pulp fiction

"Uma grande paródia pós-moderna do filme de crime. A subversão das convenções constrói uma paródia humorística. Nas cenas de violência, o filme se concentra nos momentos prévios e posteriores à violência em si."



Bastardos inglórios

"É uma obra-prima que coloca Tarantino junto dos grandes da história do cinema, John Ford, Orson Welles, Federico Fellini e outros. Tarantino é hoje um mestre do estilo, um mestre das formas cinematográficas trabalhadas na melhor tradição do cinema de gênero americano. Mestre nas formas como foi Alfred Hitchcock no passado…"

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