terça-feira, 8 de novembro de 2011

Vida e carreira: Um equilíbrio possível?




Vida pessoal e vida profissional

Mario Sergio Cortella – Já faz algum tempo, Pedro, que eu pensei na possibilidade de fazer esse livro com você. Isso porque, em nosso convívio com executivos dos setores público e privado, em razão de nossa atividade como consultores e palestrantes, muitas vezes percebemos um elevado nível de angústia nas pessoas por causa do desequilíbrio que costuma se estabelecer na vida e, dentro dela, na carreira.
Aliás, desde já gostaria de deixar claro que não gosto da separação entre “vida pessoal” e “vida profissional”, uma vez que o trabalho faz parte da vida pessoal. Sou uma pessoa e, portanto, tenho também uma vida profissional. Não sou um profissional e uma pessoa; sou uma pessoa cuja vida tem várias dimensões. Uma delas é a profissional, a minha carreira, que é uma dimensão muito importante do meu cotidiano, entre outras razões, porque dedico muito tempo a ela. Não sei se você concorda comigo, mas por vezes fico pensando que passamos uma parte inicial da vida estudando para desenvolver uma carreira, depois dedicamos uma parte para a própria carreira, para mantê-la e, quando podemos aproveitar, acabamos não tendo mais tempo vital. Isso gera angústias e conflitos internos no dia a dia. Foi até por causa disso que chegamos a conversar certa vez sobre a possibilidade de produzirmos um material a respeito desse tema. Você também sente isso em sua caminhada? Você nota que várias pessoas estão um pouco amarguradas, achando que há uma incompatibilidade entre essas duas facetas de suas vidas?


Pedro Mandelli – Bem, eu não lido diretamente com gestão de carreira, não é a minha especialidade. Mas lido com mudança organizacional, com gestão de pessoas. E é nessa situação que sempre fica a pergunta: “Vamos fazer essa mudança? Mas e eu, como fico nela?” Ou ainda: “Vamos fazer a fusão da empresa A com a empresa B? E aí, como fica minha situação no novo conglomerado?”. Essa angústia que nasce na pessoa diante da ameaça de perder o mantenedor de sua vida, chamado empresa, é muito profunda. Isso é característico dos últimos 50 anos talvez, quando se coloca esse lastro de esperança na organização. Logo, sempre que esse lastro se abala um pouco surge o questionamento sobre o que se fez certo e o que se fez errado.
Uma outra vertente que me incomoda muito é o entendimento de que a pessoa é sempre devedora, da perspectiva da empresa. Ela sempre está devendo competência, desempenho, equilíbrio, devendo isso ou aquilo. Mas o fato é que estamos trabalhando um percentual adicional com o aumento da competitividade da década de 1990 para cá, o que levou todo mundo a se esforçar muito mais, a estar mais plugado, mais interligado, e a estudar muito mais para estar apto a enfrentar o mercado.


Cortella – E aí ficamos devedores em casa – porque é muito comum que na sua casa, na minha, ou na dos executivos em geral, nós nos tornemos devedores. Estamos devendo tempo, presença, companhia, dedicação, alegria... É angustiante só ter credores!


Mandelli – É verdade: deve-se para os filhos, para os pais, para a religião, para o esporte, para os amigos, para a própria saúde. E o pior: quando a pessoa tenta estabelecer prioridades – o que, na minha opinião, não é equilíbrio, mas escolha –, se ela decide que precisa se dedicar mais à vida familiar, a empresa a penaliza, considera que ela está desmotivada, que não está interessada em crescer profissionalmente. Então considero muito relevante essa questão do “eu inteiro”. Concordo com você que a divisão de “lado pessoal” e “lado profissional” é coisa antiga.


Cortella – É como declarar: “Não levo trabalho para casa”. Quer dizer, posso  realmente não levar uma atividade de trabalho para dentro de casa. Porém, quando alguém diz que não leva trabalho para casa geralmente está tentando separar vida profissional e vida pessoal, o que indicaria, em primeiro lugar – lamento –, do ponto de vista psiquiátrico, esquizofrenia, ou seja, alguém capaz de se dividir de maneira tão nítida e com fronteiras que, de fato, não existem. Em segundo lugar, quando vou ao trabalho – no sentido de emprego –, levo comigo a minha vida fora do trabalho, e quando vou para a vida fora do trabalho, o trabalho vai junto – a circunstância, a animação, o desespero, o reconhecimento, a chateação...
Você falou várias vezes em empresa. Quando você diz que somos sempre devedores, na ótica da empresa, acho que não é só na dela, não. Penso que é um entendimento do conjunto das organizações: escola, grupos de trabalho etc. Atualmente, em função dessa competitividade, qualquer organização produz nas pessoas, de maneira geral, essa sensação de que elas têm uma dívida a ser paga. Há sempre um deficit.

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(trecho do livro Vida e carreira: Um equilíbrio possível?, de Mario Sergio Cortella e Pedro Mandelli).


Não percam, bate-papo com os autores e lançamento desse livro dia 28/11/2011, em São Paulo!!!

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