segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Histórias mínimas

Infância


Com infinita paciência e doçura da paixão, a professora Lucinda contava história bonita para seus alunos. Ao concluí-la, certamente faria perguntas e os desafiaria a buscar, nos valores narrados, situações de vida e exemplos do cotidiano.


Atentos, seus alunos, de olhos arregalados, pareciam devorar suas palavras com sabor e paixão. Não tiravam os olhos da professora e todos se faziam protagonistas dos sonhos que ela narrava. A sala de aula se transformara em espaço encantado de imagens e imaginação. Todos tinham sua atenção voltada para a jovem professora.

Todos não.
No fundo da sala, distante da história e ausente do relato, Maria Cecília, 5 anos, desenhava.

Em seu trabalho aplicava toda a dimensão de seu talento e concentrava a energia plena de sua atenção.

Enquanto os outros alunos se voltavam agora para uma bonita gravura que consolidava a história, Lucinda, com seus passos leves, dirigiu-se até Cecília. Olhou com surpresa seu estranho desenho e perguntou:


– O que você está fazendo, meu bem?

– Estou desenhando, professora!

– Desenhando o quê, minha querida?

– Estou fazendo um desenho de Deus...

– Deus? Mas como, meu amor, se jamais se viu a face de Deus?

– Eu sei, professora. Ainda não terminei meu trabalho. Mas, logo, logo, todos poderão ver Sua face...


Em breve Histórias mínimas, de Celso Antunes. Próximo lançamento da Papirus Editora. Trecho retirado desse livro.

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