Dia Nacional da Poesia

A poesia ganhou um dia específico em homenagem ao poeta brasileiro Castro Alves, no dia de seu nascimento, 14 de março. Castro Alves ficou conhecido como o “poeta dos escravos”, pois muito lutou pela abolição da escravidão. Sua indignação quanto ao preconceito racial ficou registrada na poesia “Navio Negreiro”, chegando a fazer um protesto contra a situação em que viviam os negros. Por sua beleza, Castro Alves conquistou a admiração dos homens, mas principalmente a paixão das mulheres, que puderam ser registradas em seus versos, considerados mais tarde como os poemas líricos mais lindos do Brasil.

Em comemoração ao Dia Nacional da Poesia, a Papirus sorteará em seu twitter o livro de poesias Paisagem vista do trem, de Antonio Calloni. Para concorrer ao exemplar, siga a Papirus no twitter (www.twitter.com/PapirusEditora) e retuíte o link http://kingo.to/viw. O sorteio será no dia 15/03!

Com “Paisagem vista do trem”, Antonio Calloni nos dá mais uma demonstração de seu enorme talento poético, um talento que resulta de um notável domínio da forma associado a uma profunda sensibilidade. (Trecho do prefácio de Moacyr Scliar)

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Quem são essas pessoas?

Quem são essas pessoas
que sonham com carros antigos?
Quem são essas pessoas
que compram o Gordini sonhado
com pouco soldo e lhe vestem roupa nova
e moderna?
Quem são essas pessoas
que usam o plural para buscar semelhança
no desespero e no desejo
no abismo e no amor?
Quem é essa pessoa
que fica triste
com o que não sabe
com o peixe que fugiu do anzol
com o mar que não obedece à previsão
com o pai que sumiu no tempo
com a mãe que morreu no tempo
com a dúvida da criação?
Quem é essa pessoa
que usa um disfarce químico
para fugir do lamento
do demônio
e do grito?
Quem é essa pessoa
que não sabe falar
que diz bom-dia ao porteiro
sem perceber-lhe
o sorriso pobre?
Quem é essa pessoa
de percepção puramente sonhosa
pintada
mascarada de tragédia e comédia
e de escrita quase inútil?
Quem é esse homem
que precisa sentir o corpo vivo do filho
entre as mãos para sentir amor
que lhe ama a carne e os ossos
que lhe ama a música potente fabricada
pela criança das suas mãos?
Quem é esse homem
que ainda se espanta com a beleza
da mulher amada
e que não se cansa de se extasiar
com a robustez das suas coxas?
Esse homem que usa o adjetivo errado
e que a irrita com sons escatológicos
é o mesmo que ganhou a batalha mítica contra o
poderoso Marlin Azul?
É o homem marítimo que a presenteia
com uma jóia defeituosa
e alguns beijos?
Quem são essas pessoas?
...legião...
...demônios nomeados...
...anjos clonados...
...fôrma...
...forma...
tão original
e tão sabidamente espelhada
infinita
no fascínio
no medo
na esperança
no amor
na morte
e na vida
Fantasmas idiotas, combinação poética, descrédito na
morte, oração cantada, bocas e beijos...
Quem são essas pessoas?

(poesia extraída do livro Paisagem vista do trem, de Antonio Calloni)