
País / Colunistas / Célio H. Guimarães

15/08/2010
RUBEM, SEMPRE RUBEM ALVES
Rubem Alves, pedagogo, poeta, escritor, cronista do cotidiano, contador de estórias, ex-teólogo e ex-psicanalista, e meu filósofo favorito, está com livro novo na praça. Na verdade, um não, mas quatro: "Do universo à jabuticaba" (Editora Planeta), "O Deus que conheço" e "A pedagogia dos caracóis" (Verus Editora) e "Quer que eu lhe conte uma estória?" (Papirus Editora). Aos setenta e alguns anos desfeitos (como gosta de dizer), o meu querido Rubem é um moto-contínuo humano, em eterna ebulição, com a curiosidade de uma criança e a sabedoria dos grandes mestres.
Mas é também e sobretudo um instigador. Com seus escritos faz o leitor pensar, meditar, avaliar conceitos e preconceitos e, não raras vezes, mudar de ideia. É, portanto, um reformador. Ao brincar com as palavras, de uma forma suave, simples e, ao mesmo tempo, profunda, renova, a cada obra, não apenas o confessado amor pela vida, mas a beleza e a importância das pequenas coisas, tão desimportantes para a maioria dos viventes.
Em "O Deus que conheço", Rubem volta ao tema da divindade, tão interessante quanto controverso. Ex-pastor evangélico, decepcionado com o que era obrigado a pregar, revela que ama a sombra de Deus, embora nunca o tenha visto. Como ser humano limitado, diz só ser capaz de amar as coisas que vê, ouve, abraça ou beija. Por isso, guarda Deus em um bolso que chama de "O Grande Mistério", mas não sabe bem o que está dentro dele. "Por vezes suspeito de que é o meu coração..." - deduz.
Em "A pedagogia dos caracóis", Rubem retoma uma de suas paixões, a educação, tão maltratada, desprestigiada e malconduzida. O sonho dele sempre foi transformar os espaços escolares, de tiranos, tristes e impositivos, em lugares queridos "onde às crianças seja permitido exercitar o olhar de assombro que têm diante do mundo". Para Rubem Alves, os professores, em vez de ensinar saberes predeterminados e, na maioria das vezes, inúteis, deveriam provocar o amor pela escola, onde se aprenderia o prazer de ler, escrever e contemplar a natureza. E, em uma das crônicas, conta sobre um educador que, ao ver um caracol, teve a inspiração pedagógica da busca da vagareza. Concluiu que, talvez, o chegar na frente não seja o mais importante, e sim o "ir". Daí o título do livro.
Com "Quer que eu lhe conte uma estória?", a Papirus, responsável pela edição da maior parte dos livros de Rubem, comemora a sua milésima publicação. E o faz com o costumeiro brilho e registrada alegria e honra. Rubem partilha dessa alegria, em registro na apresentação do livro, "o escritor tem o poder de escrever o texto", "mas somente as editoras têm o poder de dar-lhe asas e soltá-lo pelo mundo". O volume, mais do que uma coletânea de estórias, contém preciosas lições de vida, que apenas o bom humor e a inteligência do autor seriam capazes de produzir.
Por fim, em "Do universo à jabuticaba", o nosso Rubem exerce um novo estilo. Em vez de crônicas, com começo, meio e fim, fragmentos do seu pensar, ou "pedaços de mim", como costuma referir. Justifica: "A cabeça é uma caixa de segredos onde se juntam os mais diferentes tipos de pensamentos. Alguns deles são tranqueiras mesmo e os jogo fora. (...) Outros ficam lá dentro e vão ajuntando, enchendo a minha canastra secreta. Não é possível transformá-los todos em peças literárias porque o tempo é curto e o espaço também. Mas não tenho coragem de me livrar deles. Resolvi então retirá-los da caixa em que estavam guardados e transformá-los em brinquedos".
É preciso dizer mais? Só que, pessoalmente, ainda brincarei muito com os brinquedos dele aqui neste canto de página, porque, com ele, estou aprendendo a voltar a ser criança. E alegria maior não há. Até porque, como conclui Rubem, a essência da sabedoria bíblica é que só "seremos salvos quando nos tornarmos crianças". Prova são os três reis magos: cumpriram uma longa jornada em busca da sabedoria. E o que encontraram no fim da caminhada? Um nenezinho dormindo numa manjedoura.
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