quinta-feira, 2 de abril de 2020

VIVER, A QUE SE DESTINA?


Dois dos maiores pensadores contemporâneos no Brasil discutem, em novo livro, questões referentes à nossa existência


Qual o sentido da vida? O que nos trouxe até aqui? Destino ou escolha? Somos livres até que ponto? Por que algumas pessoas têm mais sucesso do que outras no que fazem? Será dom, vocação ou esforço? Em Viver, a que se destina? (128 pp., R$ 39,90), lançamento da Papirus 7 Mares, Mario Sergio Cortella e Leandro Karnal refletem sobre essas e outras questões que há séculos fascinam e intrigam a humanidade.

Viver é um desafio contínuo. A ciência, a filosofia, a religião e a arte têm oferecido algumas possibilidades de resposta para nossas inquietações. Afinal, pode ser aterrador imaginar que não há um destino, algo que explique a nossa existência. Por outro lado, a ausência de sentido nos deixa livres para ser e viver conforme desejarmos – embora isso implique também responsabilidade. “A ideia de destino é tranquilizadora. Ela nos deixa mais serenos”, comenta Cortella. “Porque se cremos que alguém, fora de nós, anterior, superior a nós decide qual será a nossa rota”, explica ele, “isso é muito mais adequado do que imaginar que precisamos fazer escolhas. Toda escolha implica responsabilidade e consequência”.

Karnal defende como libertador ter de inventar seu próprio sentido. E observa: “Podemos entender que a existência é aleatória, não tem sentido, nada muda definitivamente nada. Mas, ao formar a minha ideia aleatória de sentido, que é histórica, estou produzindo algo que eu creio ser significativo”.

Seja escolha ou destino, seja a vida um drama que vamos tecendo ou uma tragédia anunciada, fato é que estamos sempre procurando algum propósito que torne a existência mais significativa. Poucas pessoas convivem bem com a ideia de uma existência sem determinação, inteiramente livre e absolutamente sem sentido. “Muitos demandam uma onisciência superior que, de forma justa e inteligente, determine tudo ou quase tudo”, lembra Karnal.

Afinal, o que justifica viver?

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“Qual é, então, a nossa margem de liberdade? Eu sou livre porque estou num tempo em que não ser desse modo não é aceitável? Mas estar nesse tempo em que estou não foi uma escolha minha. E se não foi uma escolha minha, o que é minha escolha?” CORTELLA

“Entender que o destino da vida é múltiplo, que as escolhas implicam perdas, que a potência de tudo está contida a cada curva da estrada, que eu sou eu e minhas circunstâncias e que é possível interferir, mas não no grau de um ser todo-poderoso, isso deveria nos tornar um pouco mais perfectíveis.” KARNAL


sexta-feira, 4 de outubro de 2019


QUEM TEM MEDO DO LOBO MAU?
Ilan Brenman e Luiz Felipe Pondé debatem o impacto do politicamente correto na formação das crianças

Quem nunca usou expressões do tipo “matar dois coelhos com uma cajadada só” ou “chutar cachorro morto”? Quem brinca de polícia e ladrão pode virar bandido? Games violentos criam assassinos? O filósofo Luiz Felipe Pondé e o escritor Ilan Brenman discutem questões como essas no novo livro da Papirus 7 Mares, Quem tem medo do lobo mau? O impacto do politicamente correto na formação das crianças (112 pp., R$ 34,90).

Hoje, a questão do que se pode falar ou de como se deve falar está bastante em evidência, e o politicamente correto vem sendo fonte de inúmeras polêmicas. Os autores explicam que esse tipo de pensamento esvazia a linguagem e produz um enfraquecimento do mundo simbólico, o que interfere negativamente na formação e no desenvolvimento de crianças e jovens. 
Para ilustrar isso, Ilan conta no livro a história de uma mãe que, por medo de que o filho crescesse violento, sempre que ele ganhava um boneco que tivesse uma arma na mão, arrancava o braço do boneco. Mas o autor explica: “Ao negarmos às crianças brincadeiras por considerá-las estereotipadas, estimuladoras de violência, que reforçam papéis na sociedade etc., estamos rachando a infância, adoecendo essas crianças”. E completa: “Crianças precisam de espaços onde o seu mundo simbólico possa se projetar. Se retirarmos isso delas, sobram inquietude, revolta, indisciplina, angústia”.

Crianças são observadoras por natureza. Elas aprendem tolerância, respeito e igualdade observando os adultos que as rodeiam. Na opinião dos autores, não é proibindo histórias, brincadeiras e jogos que teremos adultos pacíficos. “A minha impressão é que as pessoas que se reuniram um dia e decidiram fazer um mundo melhor estão acabando com o mundo, na verdade, porque os jovens estão muito piores do que eram há 15 anos: inseguros, frouxos, medrosos”, dispara Pondé. Para ele, essa verdadeira patrulha do pensamento surge como uma tentativa de resolver um certo esgarçamento de formação e de percepção, mas isso acaba engessando as reações, produzindo pessoas incapazes de lidar com as próprias emoções.

A leitura dessa obra nos faz refletir que talvez o lobo mau não viva apenas nos contos de fadas, mas esteja a nos espreitar na escola, na família, na política, na sociedade, enfim. Para enfrentá-lo, precisamos ser livres para pensar e nos expressar, e até reorganizar certos comportamentos e linguagens nossos.

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Sobre os autores:

Ilan Brenman nasceu em Israel em 1973, mas veio para o Brasil ainda criança, em 1979. É psicólogo formado pela PUC-SP, mestre e doutor em Educação pela USP, onde pesquisou a influência do politicamente correto na literatura infantojuvenil e na formação das crianças. Considerado um dos mais importantes autores de livros infantis no Brasil, tem quase uma centena de títulos publicados, muitos deles premiados e também traduzidos em diversos países, como Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, Suécia, Coreia e China. Seu best-seller é Até as princesas soltam pum, que já vendeu centenas de milhares de exemplares. Ilan ministra palestras por todo o Brasil e tem uma coluna semanal na rádio CBN, chamada Conversa de pai.


Luiz Felipe Pondé é doutor em Filosofia pela USP e pela Universidade Paris VIII, com pós-doutorado pelas universidades de Tel Aviv (Israel) e Giessen (Alemanha). É coordenador e vice-diretor do curso de Comunicação e Marketing da Faap e professor da pós-graduação em Ciências da Religião da PUC-SP. Foi professor convidado da Universidade de Marburg (Alemanha), da Universidade de Sevilha (Espanha), da Escola Paulista de Medicina da Unifesp e membro da Société Internationale pour l’Étude de la Philosophie Médiévale (Bélgica). Tem vários livros publicados e escreve para o jornal Folha de S.Paulo.

AVALIAR PARA (TRANS)FORMAR


Coletânea discute como a avaliação pode mudar o ensino e a aprendizagem

O tempo todo avaliamos e somos avaliados. Na escola, embora o papel da avaliação venha ganhando cada vez mais destaque nos cursos de graduação e pós-graduação, o tema ainda não tem recebido a necessária atenção. Para suprir essa lacuna, a Papirus Editora lança Conversas sobre avaliação (160 pp., R$ 44,90), obra organizada por Benigna Villas Boas e que é resultado de interações com professores da educação básica e superior em palestras, pesquisas, encontros informais e contatos por escrito.

“A avaliação tem suscitado dúvidas de caráter teórico e prático”, aponta Benigna. Os aspectos abordados no livro, ela explica, mais do que colocar em evidência as fragilidades desse tema, apontam caminhos e possibilidades para o dia a dia em sala de aula de toda a comunidade escolar, incluindo pais e responsáveis. O objetivo é ampliar a reflexão sobre o que é a avaliação, suas funções, seus níveis e suas práticas, para promover as aprendizagens de todos os estudantes, da educação infantil à superior, contemplando também a educação de jovens e adultos e de jovens internos em instituições socioeducativas.
 
Entre outros tópicos, os capítulos questionam se é mesmo cabível avaliar comportamentos, se é possível eliminar a reprovação e que outras formas de avaliação podem ser consideradas além da aplicação de provas. Os autores também falam sobre como integrar pais e responsáveis nesse processo e sobre como a avaliação feita de forma encorajadora e respeitosa pode ajudar a driblar o bullying na escola.

Em formato de conversa, com linguagem objetiva e acessível, a obra afirma o compromisso dos autores com a educação de qualidade. “Nossa convicção pedagógica volta-se para que a avaliação cumpra seu papel de valorizar o trabalho desenvolvido pelas escolas (de educação básica e superior) e que, por seu intermédio, se removam as fragilidades encontradas no mais curto espaço de tempo”, explica a organizadora.

A aprendizagem dos alunos é tão importante que exige cuidados constantes para que continue evoluindo. O livro convida todos os professores, das mais diversas áreas, a participarem dessa conversa, pensando e repensando suas práticas avaliativas.

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Sobre a organizadora:

Benigna Villas Boas nasceu em Bonfim (MG) e mora em Brasília desde 1960. É pedagoga, mestre em Educação pela Universidade de Houston, no Texas, doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pós-doutora pelo Instituto de Educação da Universidade de Londres.
Professora emérita da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), atua nos cursos de formação de professores e no Programa de Pós-graduação em Educação, além de coordenar o Grupo de Estudos e Pesquisa em Avaliação e Organização do Trabalho Pedagógico (Gepa), cadastrado no CNPq. Desenvolve pesquisas sobre avaliação e tem publicações importantes na área, ressaltando-se a obra Portfólio, avaliação e trabalho pedagógico (2004) e a organização do livro Avaliação: Políticas e práticas (2002), ambos publicados pela Papirus Editora.

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

ANJO OU DEMÔNIO? A ESCOLHA É SUA!


Cortella e Monja Coen trazem, em novo livro, a filosofia e a espiritualidade para uma conversa sobre vícios e virtudes

Como podemos transformar vícios em virtudes? De que adianta ser bom num mundo tão corrupto e injusto? Como somos quando ninguém está nos vendo? Todo ser humano tem salvação? O filósofo Mario Sergio Cortella e a Monja Coen, fundadora da Comunidade Zen-budista do Brasil, debatem essas e outras questões no novo livro da Papirus 7 Mares — Nem anjos nem demônios: A humana escolha entre virtudes e vícios (208 pp., R$ 38,90).

Não há dúvidas de que somos seres capazes de virtudes e de vícios. “Somos angelicais e demoníacos”, provoca Cortella. Para ele, a virtude “não é o que já nasce pronto em nós; ela é uma possibilidade a ser desenvolvida, tal como o vício”. Monja Coen acredita que “se, por exemplo, começarmos a imitar alguém que fala gentilmente, vamos nos transformando, até chegar o momento em que aquilo deixa de ser uma cópia e se torna o que somos”.

Os autores falam também sobre a importância de praticar a virtude, independentemente de qualquer situação. “Eu acho que o que caracteriza uma virtude no sentido de positividade é exercê-la como crença, e não como circunstância”, explica Cortella. Monja Coen cita Gandhi: “Somos a transformação que queremos no mundo”.

Nem anjos nem demônios: A humana escolha entre virtudes e vícios nos leva a refletir sobre o outro como nosso semelhante, a intolerância cada vez mais presente em nosso cotidiano e a falta de compaixão. Monja Coen lembra que “devemos fazer o bem a partir da identificação, da empatia com o outro, do coração como cerne do nosso eu verdadeiro. Ações devem ser realizadas através da pura compaixão. E a compaixão só surge se houver sabedoria. A sabedoria é o portal da virtude, é o portal de uma vida ética”.

Diante de nossas escolhas, estamos no caminho certo?


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“Acho que a virtude é exatamente aquilo que permite que a gente se eleve não no campo da soberba, mas que realize a nossa humanidade no ponto máximo, ou seja, não desperdice vida.” (Cortella)

“Nem bom nem ruim, acho que o ser humano nasce com determinadas características, que podem ser alteradas por meio da educação, do convívio e de práticas que o transformam.” (Monja Coen)

segunda-feira, 1 de abril de 2019